Culpa por não estar bem: quando o “devia estar grata/o” só aumenta o peso

Sentir-se em baixo quando aparentemente “há razões para estar bem” é mais comum do que se pensa. Muitas pessoas descrevem uma sensação de culpa emocional: em vez de simplesmente lidarem com o mal-estar, sentem-se erradas por não estarem felizes.

Frases como “tenho saúde, devia estar agradecida”, “há quem esteja muito pior” ou “não tenho razões para me queixar” são exemplos de pensamentos que, embora pareçam racionais, acabam por aumentar o peso emocional. A lógica é simples: se tudo parece estar no lugar, a tristeza é interpretada como uma falha pessoal.

Do ponto de vista psicológico, esta experiência está associada a processos de comparação social e a crenças internalizadas sobre gratidão e resiliência. O problema é que, em vez de promoverem bem-estar, estas crenças transformam-se em autocrítica. O resultado é um ciclo em que o mal-estar inicial se mistura com sentimentos de inadequação, criando uma sensação de bloqueio.

É importante distinguir entre gratidão autêntica e gratidão forçada. A primeira nasce de um reconhecimento genuíno, que pode coexistir com momentos de tristeza. A segunda surge como exigência: “tenho de estar bem, senão algo está errado comigo”. Neste caso, a gratidão deixa de ser recurso e transforma-se em fardo.

A investigação mostra que emoções mistas são naturais. É possível sentir gratidão pelo que se tem e, em simultâneo, tristeza ou desânimo perante outras áreas da vida. Quando se reconhece esta complexidade, abre-se espaço para uma postura mais compassiva consigo próprio, reduzindo a culpa e permitindo lidar de forma mais saudável com o sofrimento.

A chave não está em eliminar a tristeza através da comparação com situações piores, mas em validar a experiência emocional. Só assim a gratidão pode voltar a ser um recurso de bem-estar, em vez de uma regra opressiva.

🌱 Sentir dor não te torna ingrata/o. Torna-te humana/o.

Se estás a carregar culpa por te sentires em baixo — mesmo com “motivos para estar bem” — lembra-te:
o teu mal-estar não precisa ser “justificável” para merecer cuidado.

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Tu não estás a falhar por não estares bem. Estás a sentir. E isso já merece respeito.